Planejamento pós-colheita - Revista Base

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REVISTA DE UTILIDADE PÚBLICA

Planejamento pós-colheita

 


 boas práticas de armazenamento de grãos garantem  segurança alimentar


A produção de grãos na área central do Paraná é propulsora da economia das cidades que fazem parte da região e também a nível nacional, dada a expressiva fatia do mercado que ocupa. As principais culturas de verão são o milho e a soja, enquanto as de inverno, pode-se indicar o trigo e a cevada com maior destaque. Com a produtividade alta, faz-se necessário uma grande capacidade de armazenamento desses grãos, além da manutenção da qualidade dos mesmos. Para tanto, diversas técnicas são utilizadas como forma de manter a boa matéria-prima estocada.

Em Guarapuava, a capacidade estática de todas  as estruturas ultrapassa 1,5 milhão de toneladas. Em termos práticos, isso significa que a região possui silos suficientes para o armazenamento de toda a colheita de grãos. Para o Engenheiro Agrônomo Luiz Fernando Souza, o problema de falta de espaço para armazenamento que o estado sofreu há alguns anos já foi resolvido. “Acredito que, atualmente, a capacidade estática das cooperativas em geral consegue atender a demanda da produção, podendo ocorrer certa dificuldade em alguma ou outra cooperativa. De forma geral, Guarapuava tem espaço suficiente para armazenar o volume de produção”, analisa.


Ele diz que essa questão depende muito das técnicas de comercialização que são empregadas. “Toda essa cadeia depende muito do mercado, pois uma vez elevado o preço, menos tempo o produto ficará armazenado. Outras formas de comercialização ajudam a liberar espaço durante a recepção da safra, como a venda futura”, comenta Souza. No caso da soja, por exemplo, que é tradicionalmente mais rentável se comparada a outros grãos, não ocorrem problemas de armazenamento. Um dos motivos é que havia a expectativa que a soja tivesse a segunda maior produção da história, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mas essa previsão não se cumpriu. 

Dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento)  indicam  que  a  produção  de  soja  no Paraná ficou em 3.508 kg/ha em uma área de 5,4 milhões de hectares. Apesar da região centro-oeste  do  Estado  ter  conseguido  uma  média  maior (4.100  kg/ha),  esses  dados  são  mais  baixos  em relação  à  safra  passada,  mas  nem  por  isso  tão significativos. Esse fator poderia ser atribuído a fatores climáticos, como excesso de chuva, falta de luz e baixas temperaturas na fase de desenvolvimento vegetativo.

Dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento)  indicam  que  a  produção  de  soja  no Paraná ficou em 3.508 kg/ha em uma área de 5,4 milhões de hectares.


O Brasil é o segundo maior produtor de soja do mundo, só perdendo para os Estados Unidos. Segundo projeções do Ministério da Agricultura, a safra de grãos nos estados brasileiros deve chegar a 300 toneladas em 2028, muito em parte impulsionada pela soja. Para Souza, o panorama da região centro-oeste do Paraná é positivo no que diz respeito ao armazenamento para esse cenário. “Estudos de viabilidade e estimativa de produção são  alguns  dos  pontos  analisados,  além  de  um plano de investimento bem elaborado que irá garantir todo o investimento no aumento da capacidade estática dos armazéns”, opina.

O armazenamento de  grãos  é  feito  em  silos e armazéns graneleiros devidamente equipados com sistemas que garantam e mantenham  a qualidade do produto. Nesse período, os grãos são influenciados por fatores como a temperatura, umidade, teor de impurezas, presença de microorganismos e outros. Quando mal armazenados, os grãos podem ficar com a sua utilização inviabilizada ao mofar, germinar, fermentar ou queimar além de apresentarem riscos à saúde de seres humanos e animais ao produzirem micotoxinas.


As perdas durante o armazenamento podem  ser quantitativas (devido à redução de peso e umidade do grão) ou qualitativas  com a perda de sabor, odor, produção de micotoxinas e outros fatores. No caso das culturas de inverno mais importantes da região, como o trigo e  a cevada, podem ocorrer danos causados pelo Fusarium  graminearum  (Giberela)  resultando em um abortamento de flores e na formação de grãos chochos, enrugado, manchados e de baixo peso. As condições favoráveis para que   a Giberela do Trigo se desenvolva são as temperaturas superiores a 20ºC e duração do molhamento das espigas superior a 72 horas.

As condições favoráveis para que   a Giberela do Trigo se desenvolva são as temperaturas superiores a 20ºC e duração do molhamento das espigas superior a 72 horas.


De acordo  com  Heraldo  R.  Feksa,  Engenheiro Agrônomo e pesquisador fitopatologista, outra decorrência da Giberela é a contaminação dos grãos por micotoxinas. “A micotoxina é produzida devido ao fato do fungo giberela estar estressado seja por condições ambientais (seca, excesso de chuva, frio e pouca luz) ou por efeito de fungicidas que contenham estrobilurinas na sua formulação, que, quando aplicados curativamente, provocam um estresse químico e o fungo produz a micotoxina em níveis elevados”, explica.


Segundo o pesquisador, há uma série de efeitos quando humanos e animais consomem a matéria-prima contaminada, mas que dependem do nível de sensibilidade conforme a espécie. No caso do Deoxinivalenol (DON), micotoxina tricoteceno (tipo B), com possíveis ocorrências no trigo, milho e cevada, a toxidade pode ser fatal em seres humanos caso seja maior que 27 mg/ kg massa corporal. Além disso, o contaminado pode apresentar sintomas como vômito, anorexia, desconforto abdominal, diarreia e toxicidade imunológica. Entretanto, Feksa ressalta que há uma certa tolerância de consumo diário de mico- toxinas e defensivos agrícolas, ou seja, há muitos agrotóxicos que são menos tóxicos que micotoxinas.

Entretanto, Feksa ressalta que há uma certa tolerância de consumo diário de mico- toxinas e defensivos agrícolas, ou seja, há muitos agrotóxicos que são menos tóxicos que micotoxinas.


Ele toma como  base  uma  pesquisa  realizada e divulgada por Takashi Nakajima, estudioso japonês que em 2010 demonstrou a comparação da toxicidade entre a micotoxina Fusarium Head Blight (FHB) e os fungicidas para essa micotoxina. “O consumo diário de DON é de 1,0 micrograma/kg vivo/dia. Já um fungicida chamado tecnicamente de Thiophanatemethyl podem ser consumidos até 120 microgramas/kg vivo/dia. Isso demonstra que a micotoxina DON é muito mais tóxica que alguns fungicidas do mercado”, explica Feksa.


A porcentagem de perdas por micotoxinas varia entre 30 a 100%. Porém, a eficiência para controle químico na redução de DON se mostra acima de 85% quando a cultura é bem manejada, atendendo, assim, aos níveis de exigência para a comer- cialização  e  segurança  alimentar  dos  grãos  no período de armazenamento.